O axé e a comunicação

03-02-2012 23:52

     O axé e a comunicação
 
     A grande maioria da população ainda nos tem como aqueles que matam aves e animais de quatro-patas, aterrorizamos as pessoas, entupindo as ruas e encruzilhadas de “feitiço”. Essa agressão visual era necessária nos tempos de nossos antepassados, visto que não existiam maneiras mais civilizadas para impor nossa cultura. Diálogos e debates não se sustentavam pois a falta de argumento intelectual era obvia. Não existia a menos possibilidade de membros das religiões africanas enfrentarem em fóruns de debates estudiosos aristocratas e cristãos. Para o Povo do Axé, restavam apenas pequenas e suspeitas instituições que se organizavam com o objetivo de proteger o livre culto aos Orixás.
     No mesmo conceito que excluo imagens cristãs de minha cultura afro-religiosa não vejo mais a necessidade de afrontar de forma dantesca, os membros de uma sociedade ainda pré-conceituosa. Hoje temos outros métodos de se fazer respeitar que pela falta de cultura e acesso a informação, nossos antepassados não possuíam. Ao nosso lado estão sociólogos, filósofos, psicólogos, antropólogos, juristas, enfim uma gama expressiva da ciência social, assim como temos ao nosso lado uma outra grande fatia intelectual que são os estudiosos e profissionais da comunicação social. Todos esses profissionais juntos e abastecidos de dados reais e desmistificados podem gerar informação, ou melhor, a tecnologia da informação. Sim, cheguei na tecnologia! Que termo complicado para os retrógrados pais-de-santo que se escondem atrás de todos os mitos que acima, nas primeiras linhas citei. Para lembrar: A evolução faz parte da natureza humana!
     Nós religiosos temos que deixar de pensar que nos preparando como Pais de Santo, as questões estão resolvidas, muito pelo contrario, isso só nos aproxima da ignorância passada. Existe a necessidade de prepararmos também nosso intelecto, precisamos nos aproximar das questões políticas e sociais, assim como devemos estudar as várias maneiras e formas que podemos nos comunicar com nossos fieis.
     Todas as religiões buscam cativar fiéis e seguidores, umas de forma mais civilizada outra nem tanto, tenho certeza que não precisamos de interpretações teatrais e cenários horripilantes. Vamos propagar o que está acontecendo, embasados em leis e argumentos concretos e não no sobrenatural, temos que nos dar conta que nem todos acreditam em que nós acreditamos. A internet está a disposição para pesquisa, debates e denúncias. Devemos utilizar esse recurso para divulgar nossa Religião, nossa Cultura! Não precisamos ensinar como fazer a Religião, mas devemos sim dizer quem somos, o que queremos e em que acreditamos. Mostrar que não somos “malvados cortadores de animais”. Se existem Babalorixás que vão um pouco mais longe, ensinam a montar uma “simpatia” e deixam claro que é apenas uma “simpatia”, sem medo de represálias dos nossos Orixás é porque possuem a mesma convicção que eu, a simpatia nunca vai virar um “trabalho para o santo” se a pessoa que montou não tiver o “axé”. Esses pequenos movimentos aproximam pessoas simpáticas ao culto.
     A essência disto tudo está na inteligência e no fato de aproveitarmos os recursos modernos de comunicação, para aproximar de nossa cultura, jovens e novos fieis. Não precisamos entrar em discussões sobre fundamentos, muito menos em confrontos com outras religiões, nossa cultura é tão rica que basta ser exposta de maneira séria para gerar cada vez mais novos simpatizantes. 

 

Rodrigo de Xapanã Belujá