Vamos matar Ogum?

03-02-2012 23:56

 

Vamos matar Ogum?
 
 
     Dia desses saiu uma notícia nos veículos de comunicação onde dizia que o Vaticano chancelava uma ferramenta digital para confissão de pecados utilizando um telefone móvel. Achei interessante a evolução e adequação do modo de operar, com o objetivo de facilitar a vida dos crentes aos ensinamentos cristãos. Além disso, uma maneira de aproximar os mais jovens da religião. Inevitavelmente enxerguei nossa religião. Medo. Enquanto religiões do mundo inteiro buscam conectar e modernizar com o objetivo de manter seus seguidores e buscar novos membros, nós discutimos se o acarajé pode ser feito no liquidificador ou se posso acender uma vela com isqueiro. Isso é estúpido.
     Temos em nossa fé que Ogum além de guerreiro é o Orixá que manufatura ferramentas para todos os demais Deuses do Panteão Africano para que Eles possam desenvolver suas habilidades com maior precisão e rapidez. Perfeito! Ogum é o Orixá responsável para unir sabedoria e engenharia. Para definir uma ferramenta, precisamos entender a necessidade real e após isso desenvolver o artefato de maneira que sua utilização seja prática. Essa união de ciência e engenharia, recebe o nome de “tecnologia”. Logo, sem pensar muito, concluo que Ogum é o Orixá da tecnologia. Ogum é o Orixá que está em constante evolução em pensamento e elaboração de novas ferramentas para facilitar a vida do homem nas mais diversas situações, inclusive nos rituais.
     O postura de muitos antigos em relação à esse tipo de evolução me faz pensar o seguinte: Vamos deixar de cultuar Ogum! Claro! Tudo que esse Orixá nos oferece é a evolução na maneira de trabalhar. Se não aceitamos, deixamos Ele de lado, não faz mais sentido manter uma obrigação não acreditando na essência dela. Desculpem-me os ancestrais de todas as Nações, mas isso não passa de um romantismo tradicional mascarado por um fundamentalismo desnecessário.
     Eu não vou deixar de cultuar Ogum, em hipótese alguma e cada vez mais vou alimentar o desenvolvimento intelectual dos homens que hoje por inspiração de Ogum, planejam e constroem máquinas para facilitar nossas vidas. Gosto de ilustrar situações, no meio da floresta Africana o fogo para cozinhar os alimentos era no chão, após anos, passou a ser fogão a lenha, hoje a gás.

     O objetivo é gerar calor para cozinhar os alimentos e os grãos para fazer os axés. Mas e agora? Usamos gás, isso não pode, já que na África não existia GLP! Chega a ser ridículo. Nessa mesma situação está a maneira que os grãos e raízes são triturados e fermentados. Tem-se notícia que por muito tempo a mandioca era mascada para iniciar um processo de fermentação, após isso começaram a utilizar a fricção de pedras para obterem o mesmo resultado. O que isso quer dizer? Temos que chegar ao fundamento, ou seja ao objetivo final: Agradar a Divindade.
     Por favor não vamos subestimar ou taxar como vontade dos Deuses nossos romantismos infundados e ignorância cultural. De fato estou na religião para evoluir de uma forma mais ordenada e disciplinada com toda a humanidade e não para ficar parado no tempo.
     Já que iniciei este texto falando da Igreja, vou deixar uma pergunta para reflexão: Se Jesus Cristo fosse assassinado nos dias de hoje, ele seria crucificado novamente ou seria utilizada a cadeira elétrica ou outros métodos modernos de execução?

 

Rodrigo de Xapanã Belujá